sábado, 4 de fevereiro de 2012

A magia em beco sem saída ou: A semana dos bruxos

Cá estou eu, num calor de fritar ovo na calçada, quase me liquefazendo dentro do meu apartamento. Um momento perfeito para lembrar que: 1. tenho um blog; 2. ele está abandonado. Então, impulsionado pelo tédio modorrento de uma noite de verão, retorno às atividades da alta esfera blogueira (só que não).


Essa foi mais uma das aquisições que fiz em setembro e, pasmem, só fui ler agora em janeiro. O motivo? Aulas, trabalho, rotina corrida, as mesmas desculpas furadas pra postergar coisas prazerosas. E bastante prazerosas, por sinal!
Conheci Diana Wynne Jones por volta de 2002, quando encontrei um livro com uma capa bastante peculiar na biblioteca da minha antiga escola. O interesse por literatura infantil/infanto-juvenil já vinha desde então, embora nessa época eu mesmo fosse pouco mais que uma criança e me interessava por razões distintas.  Enfim, convém falar que a autora atingiu uma certa notoriedade, embora não seja particularmente famosa no Brasil, devido à temática de seus livros de fantasia: a magia é real, recorrente, e quase sempre acaba levando a confusões.
Embora não tenha lido toda a coleção Os mundos de Crestomanci, li uma boa parte deles, e considero A semana dos bruxos meu favorito até agora. O enredo se desenvolve a partir do seguinte ponto: as personagens vivem em um mundo onde a magia é proibida, porém ela pipoca por todos os cantos com uma frequencia assustadora. Quando o professor de uma turma composta principalmente de descendentes de bruxos que foram presos encontra  um bilhete que afirma que uma das crianças é bruxa, ele sabe que essa situação tem de ser resolvida rapidamente, antes que um dos Inquisidores do governo chegue e tome medidas mais drásticas.
O encontro dessa nota coincide, ironicamente, com a descoberta de vários dos alunos de que podem praticar magia e seus modos de lidar com essa situação. A narrativa é simples, fácil de acompanhar, ao mesmo tempo em que é rica em detalhes, um traço típico da prosa de Diana. É um texto realmente instigante.
Em muitas passagens se percebe o uso de um tipo de lógica que eu costumo chamar de lógica do absurdo. As situações são tão irreais que o leitor não consegue evitar se deixar levar pela técnica hábil daquela que já foi chamada de rainha da fantasia. E o grande trunfo da autora está em tratar desse absurdo de maneira leve, reforçando a superação do preconceito e o esforço para fazer do mundo um lugar melhor, motes da história deste livro.
É bastante difícil pra mim comentar sobre A semana dos bruxos sem dar spoilers. Recomendo a leitura de dois outros livros da série, Vida Encantada e As vidas de Christopher Chant, para um melhor entendimento de quem é Crestomanci, o que o faz único e capaz de resolver o problema em questão, e como funcionam os mundos paralelos, que mesmo pouco explorados aqui são cruciais para o entendimento do livro.
Nota: 4/5 (pela carga de leitura necessária para o entendimento)

Por favor, deixem um comentário. Será que alguém além de mim já leu isso? Eu prometo que volto logo!

Curtas I

Cena I - na qual Bernardo quebra uma promessa

Bernardo promete postar com maior frequência. Passa-se um mês e a bola de feno é rainha deste blog.

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Cena II - na qual Bernardo demonstra todo o seu traquejo social e boa educação

Leka diz:
*não paguei o [censura descarada] e perdi os livros do Gaiman em promoção
Bernardo diz:
*sua anta.

(A "censura descarada" é brinks, viu? Acontece que eu esqueci qual a livraria na hora de reproduzir o diálogo.)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Sobre a importância da leitura ou: Bernardo trocado em miúdos

Cá estou eu de novo apenas pra fazer uma postagem rápida.

Na semana passada, eu escrevi um pequeno texto sobre a importância da leitura em minha vida para o blog Razão e Resenhas, da minha amiga Vivi.
O resultado pode ser conferido aqui. E já aproveito pra indicar o blog dela, que é muito bom.

Aproveito pra agradecer os novos seguidores que apareceram por conta desse texto. Obrigado a vocês todos pelos comentários e obrigado, Vivi, mais uma vez.

Eu sei que o literatismos ainda tem poucas postagens, mas a partir de quinta-feira mudo de horário de trabalho e a leitura e os comentários serão mais constantes :)

Abraços!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Não entre em pânico! ou: O guia do mochileiro das galáxias

Parece que vai se tornar um hábito escrever sobre os livros que terminei de ler, mas não que isso faça alguma diferença significativa. Em todo caso, abram alas para um dos livros mais engraçados que li nos últimos anos!


Taí um livro de que sempre ouvi falar e por um motivo ou outro nunca tinha lido. Na quarta-feira passada, enquanto esperava minha mãe passar me buscar, parei numa livraria e comprei ele, só pra matar o tempo. Apesar de ouvir uns gritos em casa ("você só gasta em livro, deus cristo!"), valeu a pena.
Posso dizer do Douglas Adams, nesse livro, que ele tem um estilo de escrita muito claro, fácil de acompanhar, fluido. É uma daquelas leituras que rende e você não vê o tempo passar porque está ocupado demais para tais coisas mundanas.
Mas afinal, que diabo conta esse livro (sempre tem alguém que não leu mesmo depois de todo esse tempo, tipo eu)? É a história do Arthur Dent, que sobrevive à destruição da Terra pegando carona em uma nave alienígena. Entre um robô deprimido, um computador excessivamente alegre, um picareta com duas cabeças e um planeta aparentemente morto, a exasperação dele é crescente (e meu medo de acordar a casa inteira com minhas risadas também). 
O tom do livro, apesar do aparente humor geek e nonsense, é de certa crítica a algumas instituições sociais, principalmente a religião. Adams era um ateu convicto, e volta e meia isso se reflete em sua escrita, sempre com colocações afiadas e inteligentes.
Destaco a transformação de um míssil teleguiado em cachalote como um dos melhores momentos do livro, mas são tantas passagens geniais que só me resta me render aos outros 4 da série.
Nota: 5/5 (eu só vou dar nota máxima aqui?)

Eu não mordo, podem deixar um comentáriozinho ali embaixo :}

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Um amontoado de maravilhas ou: Coisas Frágeis

Voltar a escrever um blog depois de muitas tentativas frustradas há uns 4 anos atrás é muito difícil. Os dedos parecem emperrar nas teclas do computador enquanto a concentração corcoveia como uma mula desembestada, mas o marasmo desse feriado tá tão intenso que é preferível gastar 3 horas escrevendo isso do que 3 minutos tentando baixar a discografia da Suzi Quatro numa internet de 100kbps.

Decidi começar com o primeiro dos livros que passaram os últimos quatro meses pegando pó na minha estante depois de terem sido começados: Coisas Frágeis, do Neil Gaiman, que terminei de ler hoje. É uma coletânea de trabalhos dele que foi publicada em 2006; contém basicamente contos com um e outro poeminha intercalado. A proposta é que seja lido conforme o gosto do freguês, sem uma continuidade pré-definida - o que pra mim é muito bom, já que a faculdade suga o meu tempo e a minha vontade de ler ininterruptamente...
A temática geral é de fantasia; há histórias de fantasmas, de extraterrestres, brincadeiras em verso com fábulas, uma e outra dose de macabro ou horror, nada muito desesperador, mas o suficiente para causar um arrepio na espinha. É interessantíssimo o modo como ele constrói a tensão dentro das histórias até arrebatar o leitor. Gaiman tem uma sensibilidade para com o elemento fantástico que dificilmente se vê nos autores contemporâneos que frequentam as listas de "mais vendidos".
Entre as histórias, destaco as seguintes: Outras Pessoas*, Os fatos no caso do desaparecimento da srta. Finch*, Cachos*, Quinze cartas ilustradas de um tarô vampírico*, Instruções*, A namorada do Harlequin*.
Cachos (Locks) e Instruções (Instructions) são poemas que brincam com o imaginário das fábulas. O primeiro traz uma criança ouvindo a história de Cachinhos Dourados de um de seus pais. O segundo traz, com uma sensibilidade intensa, passos para sobreviver quando se achar em uma fábula.
Os outros citados são contos, ou quase isso, porque alguns deles brincam com a forma "convencional" (ou o quão convencional se pode ser) do conto. Quinze cartas ilustradas de um tarô vampírico traz 15 pequenas peças de histórias a partir de algumas das cartas que compõe os arcanos maiores do tarô. Outras Pessoas brinca com a fluidez do tempo em uma câmara de "auto" tortura. Na história da srta. Finch, um circo misterioso vem para a cidade e desaparece misteriosamente após deixar a platéia embevecida. Em Harlequin, o pregador de peças se vê apaixonado por Columbina e lhe dá seu coração - literalmente.
Os elementos do terror e do fantástico surgem nas histórias a todo momento, e o livro é um prato cheio pra quem gosta desse segmento da literatura. Acho bacana também que Gaiman tem um estilo de escrita sofisticado e ao mesmo tempo mais "cru", e bastante fácil de compreender.

Coisas Frágeis é um livro meio coringa, porque serve o duplo propósito de entreter como leitura contínua e também constituir uma leitura "esporádica", praqueles momentos em que se abre o livro, se folheia, e se lê um ou dois contos para distrair. Recomendo com muito gosto, e acho uma boa obra até para conhecer o autor, pois dá pra ter um bom panorama do estilo de escrita e temas dele.
Acho que é isso, por hora.
Nota: 5/5 (aberto à contestação nos comentários :})
Um abraço e até o próximo livro.


*tradução minha, porque li o texto original e não a versão em português.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Sobre o blog ou: Como treinar seus literatismos

Numa dessas surgiu a idéia de escrever um blog sobre, hum... na falta de um termo melhor (pra definir o assunto disso aqui), literatura.

O plano é simples: comentar, sem grandes pretensões, um livro aqui e acolá. O foco seria principalmente literatura infantil, ficção contemporânea, alguma poesia, quem sabe até fazer algumas traduções livres (afinal, é isso que eu estudo). A intenção é dar pitaco na sua vida literária mesmo.

Aí vamos ao amansa-burros, ortodoxamente conhecido como dicionário Houaiss, e temos
Literatismo
substantivo masculino
Uso: pejorativo.
1    mania de ser literato
2    literatura medíocre, de má qualidade; literatice

o que é simplesmente genial, pois pega a sacanagem que é eu querer escrever um blog sobre literatura e já brinca com esse sentido pejorativo... enfim, tirem suas próprias conclusões.

Tá na hora de ajustar as [minhas] letras.